em guardar,
a cantar passou o verão.
Eis que chega o inverno, e então,
sem provisão na despensa,
como saída, ela pensa
em recorrer a uma amiga:
sua vizinha, a formiga,
pedindo a ela, emprestado,
algum grão, qualquer bocado,
até o bom tempo voltar.
-“Antes de agosto chegar,
pode estar certa a Senhora:
pago com juros, sem mora.”
Obsequiosa, certamente,
a formiga não seria.
-“Que fizeste até outro dia?”
perguntou à imprevidente.
-“Eu cantava, sim, Senhora,
noite e dia, sem tristeza.”
-“Tu cantavas? Que beleza!
Muito bem: pois dança, agora…”
A Cigarra e a Formiga – Jean de La Fontaine